ame sua cabeça preciosa

queria muito ter ouvido que eu deveria me amar como autista. queria muito que alguém tivesse me dito que não há problema em ser o que sou. mas não tive essa chance. só fui aprender isso tempos depois. e agora, quero falar para cada garota neurodivergente que pode amar sua cabeça do jeito que ela é. tá tudo bem, não há nada de errado com você.

sei que é algo mais fácil de falar do que de fazer. mas se bem que quase tudo na vida não é fácil - eu mesma estou tentando o meu melhor e trabalhando nesse estilo de auto-amor. entendo que é complicado amar nossas cabeças quando aprendemos que a gente não deve divergir a norma. a gente não deve ser tão diferente. a gente não deve ser tão autista, tão bipolar, tão TDAH, tão disléxica, tão superdotada, tão deficiente intelectual... tão neurodivergente. e são coisas que aprendemos sem questionar, e que nos fazem mal. a gente deve ser um ouro que não somos.


crescemos (com sorte) ouvindo que devemos amar nossos corpos, gostar do nosso cabelo, nos achar bonitas, ver nossa aparência no espelho e gostar dela. mas nunca ouvimos que devemos nos achar legais e capazes, aceitar nossas emoções sem frescura, entender que não precisamos ter tantos contatos ou tantas conquistas... a gente devia sempre nos moldar, nos mascarar e esconder nossas atipicidades típicas, pra não sermos vistas como dramáticas, chatas, antissociais, fracas, incompetentes, instáveis, preguiçosas, burras, dispersas, frescas, estranhas, anormais... e assim, nos achamos sempre insuficientes, mesmo com nossas máscaras sociais ativas. nos vemos como pedras rachadas.


mas é bom nos libertarmos dessas amarras normativas o quanto antes. parar de ver nossas condições como pedras rachadas e sem valor, enquanto vemos o cérebro neurotípico como um ouro cobiçado. ele até tem seu valor, mas também precisa de polidez para continuar reluzindo bem, e isso não é algo muito comentado. tem muita garota neurotípica que pode estar sofrendo para corresponder a um nível de produtividade, independência, afeto e presença inalcançáveis, e desconsiderando seus limites emocionais. a norma é cruel pra todo mundo, e não deveríamos nos martirizar tanto. a gente deve olhar para nossas pedrinhas com mais carinho. sabe por quê?


porque nossos cérebros atípicos estão mais pra pedras preciosas do que pra pedras sem valor. diamante, rubi, safira, esmeralda, cristal... o que você mais gosta. até podem não passar por uma lapidação boa (e recomendada) no início da vida, como terapia e estimulação. mas ainda há um valor escondido, tanto nas suas qualidades, quanto nos seus defeitos. de novo, não há nada de errado com você. sua condição é uma pedra preciosa que precisa de lapidação constante para não se desvalorizar. ela pode até ser uma coroa bonita, se olhar com mais profundidade e compaixão para suas características atípicas.


você não precisa ser um ouro típico. isso não te cabe, não é sua realidade, não condiz com você. você é uma pedra preciosa, com formatos variados, até desregulares, com suas bênçãos e batalhas, que te fazem única. há uma coroa de pedras na sua cabeça que vale muito. ame sua cabeça preciosa. isso vai te fazer bem.


💜 X'nO, Lilac P


fundo branco, com o seguinte trecho em letras pretas: "há uma coroa de pedras na sua cabeça que vale muito. ame sua cabeça preciosa. isso vai te fazer bem." isso vem do texto "ame sua cabeça preciosa", que está destacado em letras brancas e contido num retângulo preto. abaixo em destaque, está parte de uma cabeça de uma garota. ela tem cabelo rosa claro, com raiz escura, e usa uma coroa com variadas pedras. a do centro tem um formato de coração, e ainda contém o símbolo do ativismo autista (infinito colorido). nos cantos, há borboletas, pérolas e desenhos de estrelas. por fim, minha assinatura está abaixo do retângulo: coração prateado brilhante, X'nO, Lilac P.

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