2022
mas o que é a guerra no Leste Europeu perto do conflito racial que ocorre aqui? pessoas pretas ainda são mortas pela estrutura social racista sem motivos, seja por questões de uma abordagem policial agressiva e injusta por cima de um neurodivergente (aí, percebi que a carne preta pode ser de centavos se tiver deficiência), seja por questões financeiras e de salário — e ninguém poupa se é um gringo africano, pois há xenofobia até contra conterrâneos e conterrâneas do Nordeste em época de eleição. uma luta sem fim por autonomia do povo indígena e preservação das terras que, técnica e historicamente, é dele por direito (nós que estamos incomodando), e até quem luta por essa causa corre risco de vida e paga por isso, como aconteceu com um jornalista inglês e um indigenista daqui. e sobrou até pra comunidade judaica, que ouviu um podcaster sem senso dizer que devia ter mais partidos nazistas no Brasil, e presenciou um ex-bilionário fazer tweets antissemitas tão tóxicos que até o novo dono do Twitter, aquele hiperfocado em Marte, teve que tirar a conta do cara do ar. (quando que cai a ficha do pessoal de que a população judia é também uma etnia minoritária?) olha… dei sorte de ser só uma mulher autista branca, mas me sinto deslocada e imponente vendo pessoas que ainda recebem represálias por serem quem são.
se bem que ser mulher não tem lá muitas vantagens numa sociedade misógina, com tantos homens que acham que devemos ceder a seus favores absurdos. se nem mesmo uma atriz global e uma mulher em trabalho de parto escapam de traumas de um estupro, quem dirá nós, mortais mulheres? e quem nos garante segurança? bom, ainda dá pra confiar em alguns bons homens. um exemplo seria um ator consagrado de Hollywood dando um tapa em um infeliz que fez uma piada bem sem graça sobre a condição de alopecia da sua esposa. custou presença e respeito nos futuros Oscar's (era violência e agressão, mesmo em legítima defesa emocional), mas mostra muito da coragem de um real cavalheiro alpha. só tem uma coisa que não entendi até agora: por que fizeram viralizar piadas e memes sobre calvície tempos depois desse episódio? poderíamos ter evoluído, mas tudo bem. não dá pra militar em tudo. de Twitter estou cheia, e não quero pensar em Koo, BeReal, Tik Tok, e nem em outras redes sociais pra agora.
apesar do meu distânciamento de redes sociais, gosto de saber que fizemos viralizar um monte de coisa melhor que COVID e varíola. tierlists, série romântica entre garotos de parar o coração, séries real crimes (embora criamos afeição em quem não deveríamos ver como ícones após seus crimes, mas ok), nostalgia de uma moda duvidosa dos anos 2000, músicas até de décadas atrás por conta de uma série histórica sobre anos 80, sonoplastia aleatória de programas aleatórios (perdi as contas de quantas vezes ouvi "cavalo", "ele gosta" e "ai, ai, ai"), autoconfiança e reação por meio de cropped… mas tem coisa que poderia ter ficado escondida e nem ter viralizado. pra quê vocês falam tanto de ex-participantes de reality show (e ainda da atuação de uma delus em novela que, embora seu sotaque de carioca seja regular e eu possa julgar por eu ser do Rio, não vi tanto porque de críticas)? e usam voz de tradutor do Google em tudo quanto é vídeo? por que viralizaram e superestimatam a mulher da casa assombrada? por que falam dos tênis surrados da Balenciaga que envergonhariam os grunges dos anos 90? (espero que parem um pouco disso depois daquela campanha horrível de Natal) por que ouvem musiquinhas de Tik Tok que podem ter vindo por livre e espontânea pressão das gravadoras? e o meme de kingo e kinga? chama a pessoa de rei e rainha! chama de Elizabeth, se quiser! até porque ela nem tá mais aqui.
tô brincando. não te forço a nada. você faz o que quiser nas redes. não sou Roberto Carlos pra te mandar calar a boca. mas quem me dera se pudesse calar a boca de alguns políticos na corrida presidencial… ao menos, o dito-cujo do "Bolso Mala" não venceu, e eu posso respirar em paz. na verdade não. quando boa parte da esperança estaria mais ou menos "restaurada" (sinceramente, não acredito que a vida brasileira volta nos eixos em quatro anos, mas o cara da estrela vermelha é menos pior que o outro — queria muito uma terceira via, mas entendo que não dá pra ter tudo), veio maus perdedores da pílula verde-amarela. e de formas impressionantes. ditos "patriotas" que usaram da religião, atrapalharam o trânsito, pregaram golpe constitucional que não fazia sentido, e ainda um deles que se achou kamikaze o bastante pra parar um caminhão. ô, pessoal birrento… um show de sertanejo com dinheiro público desviado dava uma boa distração e choro das mágoas dessas gente em estado de sofrência. tentamos união e trégua na copa, mas não durou muito. nem a trégua, e muito menos a nossa alegria, pois a seleção perdeu nas quartas de final. e assim, terminamos esse ano na sofrência de saber que vai ser mais mais quatro anos sem sinal de hexa, e sem o Pelé pra dar a bênção (a não ser do outro lado).
enfim… 2022 nos bateu bonito. boa parte de nós queríamos a tranquilidade da cadelinha com seu chapeuzinho e óculos de sol em Florianópolis, e recebemos o caos em um conjunto de 365 dias. vai ter mais caos de milhões ao longo de 2023, e já entendi que vai ser assim. mas ainda espero mais 365 dias legais. nos vemos nos ano que vem.
💜 X'nO, Lilac P

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