moça intelectual
você é tão inteligente, mas tão subordinada a um título… te disseram muito pra ser perfeita, nunca errar, esconder seus defeitos, não ser hiper emocional, pois isso é coisa de garotinha, e você não é como as outras garotas. você tem que sempre ser o exemplo de sabedoria, pois não pode dar o luxo das outras pessoas te inferiorizarem e dizerem que não é capaz. pois você ouviu o tempo todo que era esperta e você não deve abrir mão disso. ninguém iria gostar de uma fraude fracassada, com vários defeitos que devam ser ridicularizados, e você precisa ser a melhor pra evitar esse destino e compensar suas falhas.
e então, você trabalha mais do que o necessário, sacrifica noites boas de sono, abre mão de lazer e outros compromissos legais, deixa até a comida pra depois pra só depois comer demais e se culpar por isso, pois está estressada e ansiosa demais pra completar essa tarefa difícil… pra nunca sentir que é suficiente. só vai ser suficiente se seu superior aprovar seu trabalho como perfeito. afinal, em vez de buscar validação masculina por medo da submissão, preferiu se submeter às validações acadêmicas e profissionais que podem estar te fazendo mal e nem percebe. ao menos, é sinal de que tá no caminho certo. ao menos, o sangue, suor e lágrimas derramados valeram a pena.
sinto dizer, mas você não tá sendo esperta. você só tá confundindo inteligência com números e conquistas, se sucumbindo a produtividade tóxica, e ainda baseando todo seu senso de valor no fato de poder ser intelectualmente superior, pois conhecimento é poder, e você precisa se mostrar poderosa pra todo mundo… enquanto está pendendo entre o perfeccionismo, a compulsão alimentar, a ansiedade, o burnout e o auto-ódio. não pode falhar. a inteligência e o sucesso são as únicas coisas que consegue bem.
mas… e se não conseguir aquele elogio? aquela validação que se acostumou tanto a receber? o que acontece? oh… espera. você já recebeu uma nota baixa, e é por isso que tá descontando sua raiva em mim, que venho fazendo meu trabalho com calma… enquanto você esteve a chorar no quarto por mais de uma hora, remoendo o "fracasso", e achando que tudo acabou pra você. eureka! decifrei o enigma!
moça, preciso te avisar que autoestima deixou de ser só sobre padrão de beleza e pressão estética há um bom tempo. melhor, nunca foi só sobre isso, mas nos fizeram acreditar que era. eu também me achava incapaz e burra e não sabia o porquê, mas aprendi a tempo que toda minha atipicidade e defeitos me ensinam a crescer todo dia. você não tentou ser amada pelo seu corpo, mas tentou ser amada pela possível ilusão de superioridade que um padrão raso de intelecto traria pra você. há quem diga que é esperta por ter esse currículo invejável. eu vou ter que dizer que tá sendo burra por se resumir a tudo isso.
eu sei, devemos buscar inteligência e conhecimento, mas não adianta muito ter tudo isso só pra se sentir melhor que um alguém que não teve as mesmas chances que você. intelecto não deve servir de parâmetro pra definir o valor de uma pessoa, mas serve de formas muito errôneas. e ainda perguntam como seria se o padrão de beleza fosse a inteligência, como se a própria inteligência já não estivesse padronizada e restrita a alguns grupos. como se não existissem pessoas que se acham burras por não lerem tanto, ou por não tirarem um 6 ou 7 em matemática, ou por não terem aquele diploma de medicina. há muito mais que seu ego não vê, acredite em mim.
então, me diz moça intelectual, o que fazemos agora com essas definições tóxicas de inteligência que nos empurram goela abaixo? o que fazemos com essas associações de inteligência a produtividade, quantidade, comportamento típico e sucesso que criamos por anos? essas coisas não funcionam pra gente como eu, e muito talvez nem funcione pra você.
💜 X'nO, Lilac P
*texto fictício

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