beleza não basta quando sua cabeça é "feia"
me mudar para uma casa com espelho no meu quarto está me fazendo ter uma noção melhor de mim. sou uma mulher de curvas sutis. nada exagerado, mas é um corpo que atraí. já me falaram umas boas vezes que tenho um corpo bonito, um rosto bonito, cabelo bonito… um cara até me parou pra pedir meu contato, pois me achava bonita. sempre dizem isso pra mim, e posso concordar e agradecer. mas… será que só basta a aparência? só o corpo garante? é só ser bonitinha e padrão que tudo vira fácil pra você?
sendo autista, acho que não. pode existir uma certa passabilidade, e te considerem alguém legal no primeiro momento. mas manter masking por muito tempo é difícil. as pessoas vão notar os sinais de atipicidade, e farão questão de dizer na cara que você é esquisita. ou podem te descartar sem dó, pois seu modo de agir é estranho demais para essa população mentalmente lindinha. população essa que quer o corpinho de Marilyn Monroe, mas não quer que venha com um cabeção de Courtney Love ou Greta Thunberg, que é o mais perto que cheguei até agora. ou mesmo uma mentalidade de Selena Gomez ou Billie Eilish, mesmo sendo pessoas maravilhosas que todo mundo quer ser.
pode ser difícil de assimilar esse detalhe, e entendo. é enraizado esse padrão de beleza cerebral. não é todo mundo que deduz o que deduzi. na verdade, são poucas que pensam nisso, e nem é difícil pensar o porquê. ninguém liga se você não aguenta ou se seu cérebro é diferente. você precisa cumprir o papel que te estipulam, ou vamos te rotular e te marginalizar. te colocando como o homem branco filho de cantor famoso, fresco, privilegiado e mimado, ou a mulher negra raivosa, brava, possuída e selvagem, que devia estar na prisão ou no hospício. simples.
não basta a mulher ser bonitinha pra sociedade. ela tem que ser bem funcional, produtiva, uma dama típica. se a mulher age de forma "exagerada", se expressa de forma "anormal", é "burra" demais ou "esperta" demais, é sinal de que causa um grande risco pra sociedade perfeitamente neuronormativa. histérica, louca, até abusiva e tóxica mesmo quando ela foi a vítima da situação. e não pensam que nem mesmo pessoas neurotípicas são perfeitas o suficiente pra alcançar os padrões sociais exigidos. até porque só lembram de saúde mental quando é sobre ansiedade e depressão. não que não sejam condições importantes de falar sobre. é só a zona de conforto desse povo que é restrita demais a algo tão complexo.
mesmo sendo bonita, eu nunca serei realmente suficiente. mesmo sendo atraente, eu ainda sou autista. e mesmo falando que sou autista, há manés que dirão que sou bonita demais pra ser isso. afinal, não parece ser belo mexer mãos e pés freneticamente, usar fidget toys, gaguejar ao falar, ter uma crise emocional por um estouro na caixa de som, comer de forma seletiva (diriam frescura), e outras coisas autísticas mais. eu ainda seria sexy e gostosa pra você enquanto associa minha condição a um anjinho azul especial? eu ainda seria seu contatinho se eu sumir por tempos por conta do meu hiperfoco? eu ainda seria honesta pra você quando não faço contato visual?
bem talvez, eu não seja pra muita gente. acho que não tenho chance aqui. não há esperanças pra mim, a não ser que eu consiga fazer algo extraordinário e virar o gênio que também esperam de mim. não uma grande mulher histórica, revolucionária, inovadora, inteligente. só mais uma autista excêntrica e esquisita, com déficits em muitos níveis, mas que é um exemplo de superação apesar deles. ainda vão falar do meu autismo mesmo se eu me destacar, e não vai haver beleza que me salve disso.
eu simplesmente desisti da sociedade, das caixas que criam. todo mundo está condenado aos padrões de beleza mesmo nos tempos de body positive. todo mundo está condenado aos padrões de comportamento, sucesso e produtividade, e mesmo neurodivergentes como eu não vão derrubar isso tão cedo. eu prefiro fazer meus corres, meus closes nas margens. eu prefiro me preservar, não cair em qualquer armadilha por amor e atenção. minha cabeça não é feia. meu diamante também é tão valioso quanto minha aparência. eu quero ser aceita tanto pelo corpo, quanto pela mente e alma.
sendo autista, acho que não. pode existir uma certa passabilidade, e te considerem alguém legal no primeiro momento. mas manter masking por muito tempo é difícil. as pessoas vão notar os sinais de atipicidade, e farão questão de dizer na cara que você é esquisita. ou podem te descartar sem dó, pois seu modo de agir é estranho demais para essa população mentalmente lindinha. população essa que quer o corpinho de Marilyn Monroe, mas não quer que venha com um cabeção de Courtney Love ou Greta Thunberg, que é o mais perto que cheguei até agora. ou mesmo uma mentalidade de Selena Gomez ou Billie Eilish, mesmo sendo pessoas maravilhosas que todo mundo quer ser.
pode ser difícil de assimilar esse detalhe, e entendo. é enraizado esse padrão de beleza cerebral. não é todo mundo que deduz o que deduzi. na verdade, são poucas que pensam nisso, e nem é difícil pensar o porquê. ninguém liga se você não aguenta ou se seu cérebro é diferente. você precisa cumprir o papel que te estipulam, ou vamos te rotular e te marginalizar. te colocando como o homem branco filho de cantor famoso, fresco, privilegiado e mimado, ou a mulher negra raivosa, brava, possuída e selvagem, que devia estar na prisão ou no hospício. simples.
não basta a mulher ser bonitinha pra sociedade. ela tem que ser bem funcional, produtiva, uma dama típica. se a mulher age de forma "exagerada", se expressa de forma "anormal", é "burra" demais ou "esperta" demais, é sinal de que causa um grande risco pra sociedade perfeitamente neuronormativa. histérica, louca, até abusiva e tóxica mesmo quando ela foi a vítima da situação. e não pensam que nem mesmo pessoas neurotípicas são perfeitas o suficiente pra alcançar os padrões sociais exigidos. até porque só lembram de saúde mental quando é sobre ansiedade e depressão. não que não sejam condições importantes de falar sobre. é só a zona de conforto desse povo que é restrita demais a algo tão complexo.
mesmo sendo bonita, eu nunca serei realmente suficiente. mesmo sendo atraente, eu ainda sou autista. e mesmo falando que sou autista, há manés que dirão que sou bonita demais pra ser isso. afinal, não parece ser belo mexer mãos e pés freneticamente, usar fidget toys, gaguejar ao falar, ter uma crise emocional por um estouro na caixa de som, comer de forma seletiva (diriam frescura), e outras coisas autísticas mais. eu ainda seria sexy e gostosa pra você enquanto associa minha condição a um anjinho azul especial? eu ainda seria seu contatinho se eu sumir por tempos por conta do meu hiperfoco? eu ainda seria honesta pra você quando não faço contato visual?
bem talvez, eu não seja pra muita gente. acho que não tenho chance aqui. não há esperanças pra mim, a não ser que eu consiga fazer algo extraordinário e virar o gênio que também esperam de mim. não uma grande mulher histórica, revolucionária, inovadora, inteligente. só mais uma autista excêntrica e esquisita, com déficits em muitos níveis, mas que é um exemplo de superação apesar deles. ainda vão falar do meu autismo mesmo se eu me destacar, e não vai haver beleza que me salve disso.
eu simplesmente desisti da sociedade, das caixas que criam. todo mundo está condenado aos padrões de beleza mesmo nos tempos de body positive. todo mundo está condenado aos padrões de comportamento, sucesso e produtividade, e mesmo neurodivergentes como eu não vão derrubar isso tão cedo. eu prefiro fazer meus corres, meus closes nas margens. eu prefiro me preservar, não cair em qualquer armadilha por amor e atenção. minha cabeça não é feia. meu diamante também é tão valioso quanto minha aparência. eu quero ser aceita tanto pelo corpo, quanto pela mente e alma.
💜 X'nO, Lilac P
p.s.: eu não publico aos domingos. então, adiantei o dia da conscientização/(auto)aceitação do autismo pra hoje. (pelo menos, no meu blog.) tratar desse assunto, depois de tanto tempo me odiando por ser o que sou, é um baita alívio. devo confessar que não vejo muito sobre autoestima pelo ponto de vista autista/neurodivergente por aqui. só um pouco em sites estrangeiros. se eu tivesse uma noção boa de que autoconfiança também envolve se aceitar por dentro, que amor próprio vai além da aparência e do corpo, teria sido bem menos complicado pra mim os meus 12 aos 19.
hoje, de bem com minha cabeça, me preocupo com outras garotas (e garotos e garotes) autistas e neurodivergentes que ainda não sabem disso. a gente avançou até que bem na aceitação dos formatos alternativos de corpo, cabelos, etnias... mas cobramos das pessoas habilidades e inteligências que não se desenvolve com facilidade. a cada dia que passa, sinto que há um padrão de beleza enraizado na cognição que também precisa ser questionado. afinal, todo mundo quer ter a produtividade matinal da blogueira tal, a formação e sabedoria de um doutor tal, a riqueza de um CEO milionário tal... mas nunca pensamos que já somos ótimes assim, nas nossas falhas. nós não aceitamos nossas capacidades, dificuldades e situações do jeito que são, e incluo as pessoas neurotípicas nesses "nós" pelo modo como estamos tão obcecades em nos provar "inteligentes" e "bem sucedides" para os padrões excludentes e normativos - a predominância constante de burnout, depressão e ansiedade estão aí com prova.
sinceramente, não sei como acabar com isso. só sei que escrevo o recado enquanto ouço o álbum novo da Melanie Martinez, e penso que seria uma boa ideia pegar uma frase de "Orange Juice" e adaptá-la a realidade neurodivergente: your brain is imperfectly perfect (seu cérebro é imperfeitamente perfeito). crescimento pessoal, metas, desenvolver sua inteligência e intelecto, são coisas importantes e é um fato. mas não adianta fazer isso para se moldar, quando poderia fazer isso pra se dignificar. deixo como mensagem final que não são apenas os padrões de beleza que estiveram e ainda estão ferindo as mulheres e homens. há muita coisa mais que não vem sendo bem observada. feliz mês da conscientização para a comunidade autista, e feliz abril para o resto da população.
hoje, de bem com minha cabeça, me preocupo com outras garotas (e garotos e garotes) autistas e neurodivergentes que ainda não sabem disso. a gente avançou até que bem na aceitação dos formatos alternativos de corpo, cabelos, etnias... mas cobramos das pessoas habilidades e inteligências que não se desenvolve com facilidade. a cada dia que passa, sinto que há um padrão de beleza enraizado na cognição que também precisa ser questionado. afinal, todo mundo quer ter a produtividade matinal da blogueira tal, a formação e sabedoria de um doutor tal, a riqueza de um CEO milionário tal... mas nunca pensamos que já somos ótimes assim, nas nossas falhas. nós não aceitamos nossas capacidades, dificuldades e situações do jeito que são, e incluo as pessoas neurotípicas nesses "nós" pelo modo como estamos tão obcecades em nos provar "inteligentes" e "bem sucedides" para os padrões excludentes e normativos - a predominância constante de burnout, depressão e ansiedade estão aí com prova.
sinceramente, não sei como acabar com isso. só sei que escrevo o recado enquanto ouço o álbum novo da Melanie Martinez, e penso que seria uma boa ideia pegar uma frase de "Orange Juice" e adaptá-la a realidade neurodivergente: your brain is imperfectly perfect (seu cérebro é imperfeitamente perfeito). crescimento pessoal, metas, desenvolver sua inteligência e intelecto, são coisas importantes e é um fato. mas não adianta fazer isso para se moldar, quando poderia fazer isso pra se dignificar. deixo como mensagem final que não são apenas os padrões de beleza que estiveram e ainda estão ferindo as mulheres e homens. há muita coisa mais que não vem sendo bem observada. feliz mês da conscientização para a comunidade autista, e feliz abril para o resto da população.

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