covarde
nos últimos tempos, fui testemunha escondida de um conflito familiar. pessoas que não viam que alguém da família pedia socorro. nem essa alguém sabia que precisava de socorro. eu era a única que estava mais perto e que notou o que acontecia. fazia o que podia, mesmo sem gostar de servir. mas minha paciência tinha limites, e tentei fingir que não via para me sentir melhor. só que ignorar tudo e ficar na defensiva o tempo inteiro mais me atrapalhou do que me ajudou.
aí que tá. eu tento me defender e criar casca grossa, quando sou uma covarde. tento me fazer de forte, mas me acho uma fraca quando me endureço. eu não sei ser forte como manda o padrão comum (geralmente masculino-neurotípico inalcançável até para homens neurotípicos). mas também não sei falar da situação sem me deixar pender na minha dificuldade de comunicação. sou uma menina que luta para se expressar bem, que sempre foi solitária por não ter uma oratória boa na hora do nervosismo. sempre falo rápido quando ansiosa.
sou boa em esconder, mas não sou boa em fingir. queria fazer de conta que não é comigo, mas é da minha conta por eu ser da família, mesmo sem ser a grande envolvida no caso. eu acabo mostrando isso de forma implícita e notável, sendo aquela que bate o pé, bate a porta, bufa, revira os olhos... com o tempo, percebi que puxei um pouco minha mãe nesse comportamento.
esse fardo me dá um estresse enorme. não queria ter isso pra mim. queria que as duas se resolvessem sozinhas, mas nenhuma delas percebem a situação. ninguém vê a demência da vovó tão bem quanto estive vendo. é sempre mais fácil para meus pais dizerem que é drama ou derrotismo. e eu, que já tenho uma boa noção de saúde mental (sendo uma leiga que me assumo leiga aprendiz), sabia bem que não é nada disso e que não estaria exagerando. só que, conhecendo bem eles, diriam que eu tô. e então, fico quieta e me remoo por não falar.
e assim, eu me sinto uma covarde. eu me sinto medrosa, ansiosa, estressada, até uma péssima pessoa. não queria ter esse tipo de má informação, essa culpa nas minhas costas. eu vejo minha vó mal, enquanto ela nem percebe que seus problemas vão além da dor de coluna. eu vejo minha mãe estressada e apontando seus deslizes de forma rude e humilhante, e ela não nota que isso não funciona mais nos nossos tempos (sem bem que não funcionava em tempo nenhum, pois ela me tratava assim umas boas vezes, e eu sempre me sentia acuada — talvez, venha daí um pouco do meu problema com assertividade).
eu não sei mais o que faço. se eu fico quieta e deixo acontecer, ou se tento avisar e correr o risco de ser criticada. eu não sei se corto os laços assim que eu sair de casa (pois ambas me sugam a energia), ou se tento o meu melhor mesmo sendo a passivo-agressiva na situação (que é como eu seria). de qualquer forma, continuarei sendo uma covarde, independente do ponto de vista. para o meu mal, eu sempre pendo para minhas falhas, e peso minha mão em mim sem perceber.
💜 X'nO, Lilac P

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