o fim de tudo e a desesperança
ver minha avó no estado de demência esteve mudando muito minhas percepções. nunca tive receio de envelhecer. ao menos, esse lado eu mantive. tô nem aí se minha pele vai cair. hoje, meu receio maior é perder a utilidade ou a chance de aproveitar as coisas, como ela vem perdendo nos últimos tempos. está próxima do fim de seu tudo, e eu nunca imaginei que isso poderia ser dessa forma.
eu sempre fui apressada, querendo um monte de coisa pra ontem. sou impaciente, exigente, às vezes deixo até de fazer algo prazeroso, pois tenho obrigação a fazer. eu me coloco numa posição de cumprir, pois não gostaria de ser chamada de preguiçosa ou inútil. costumo ser chamada assim, e sempre me cansa ser rotulada dessa forma. eu não gosto quando pensam que desperdiço potencial, pois é um tipo de pensamento que me assombra. eu não queria me deixar levar pelo mundo instável, mas sinto que preciso fazer algo a mais o tempo todo, antes que eu seja engolida ou deixada pra trás. a situação da minha avó intensifica mais ainda essa autocobrança.
odeio vê-la dessa forma, na cama. duas internações, e me parece que vai ser cada vez mais comum. o máximo de esforço que faz é passar as pernas pela brecha entre a mureta de proteção e um andador usado como grade provisória, pra não cair da cama e não causar problemas, pois não pode andar. ao menos, segura a garrafa de água e come um pouco, e se mantém na fralda geriátrica. pareço cuidar de um bebê. já vi a cara deprimente e olhar perdido dela. a energia que usava pra fazer doces, dirigir caminhão, ou xingar está indo embora. a cada dia que passa, a sanidade também vai embora. está virando uma massa sem vida, de memórias ocas. só que eu sei muito bem que essas memórias não são ocas, e sim fragmentadas e perdidas no espaço-tempo.
tantas meninas da minha idade com medo de envelhecer, da jovialidade e sensualidade caírem, e eu com medo de morrer jovem, sem passar pela velhice e pela queda de forma saudável. eu não me preocupo com a perda da beleza. sou legal demais pra creme anti-idade. me preocupo com a minha vitalidade e utilidade. felizmente não bebo muito e nem exagero nos doces, como minha avó costumava fazer. mas sou estressada, ansiosa, me alimento mal às vezes, e fico horas com olhos vidrados na tela azul. quem me garante que minha demência não venha? pode não ser pelo álcool ou diabetes, mas poderia acontecer pelo excesso de luz azul.
e quem me garante que vou chegar na faixa da expectativa de vida brasileira? nunca se sabe o que vai acontecer. violência? acidente? infarto? mudanças climáticas? estou cada vez mais cética e desesperançosa. o futuro pode estar cansado de esperar, mas quem me garante que ele vai existir? o mundo me cobra absurdos, mas não considera minhas particularidades. não tem como eu ser aquela garota, mesmo sendo bilionária e com condições pra tal. eu iria vomitar o suco verde devido à seletividade alimentar, e acordaria cinco da manhã só pra ficar hiperfocada por horas num interesse inútil, enquanto esqueço da minha produtividade matinal.
uma parte de mim está pessimista e desistente, e outra quer manter sonhos vivos. eu não gostaria de passar por essa vida apenas observando, como fiz antes. eu gosto de agir e realizar. tenho tanta coisa pra fazer, mesmo que eu realize aos 40, e logo sofra retaliação etarista de chatinhas de 20 e poucos. como falei, eu não quero morrer nova. eu não quero ser inútil, mesmo no fim do meu tudo. estou exausta, pessimista, frustrada, e não gostaria de desistir mesmo assim. estou numa corda-bamba, e não sei pra onde vou cair.
eu sempre fui apressada, querendo um monte de coisa pra ontem. sou impaciente, exigente, às vezes deixo até de fazer algo prazeroso, pois tenho obrigação a fazer. eu me coloco numa posição de cumprir, pois não gostaria de ser chamada de preguiçosa ou inútil. costumo ser chamada assim, e sempre me cansa ser rotulada dessa forma. eu não gosto quando pensam que desperdiço potencial, pois é um tipo de pensamento que me assombra. eu não queria me deixar levar pelo mundo instável, mas sinto que preciso fazer algo a mais o tempo todo, antes que eu seja engolida ou deixada pra trás. a situação da minha avó intensifica mais ainda essa autocobrança.
odeio vê-la dessa forma, na cama. duas internações, e me parece que vai ser cada vez mais comum. o máximo de esforço que faz é passar as pernas pela brecha entre a mureta de proteção e um andador usado como grade provisória, pra não cair da cama e não causar problemas, pois não pode andar. ao menos, segura a garrafa de água e come um pouco, e se mantém na fralda geriátrica. pareço cuidar de um bebê. já vi a cara deprimente e olhar perdido dela. a energia que usava pra fazer doces, dirigir caminhão, ou xingar está indo embora. a cada dia que passa, a sanidade também vai embora. está virando uma massa sem vida, de memórias ocas. só que eu sei muito bem que essas memórias não são ocas, e sim fragmentadas e perdidas no espaço-tempo.
tantas meninas da minha idade com medo de envelhecer, da jovialidade e sensualidade caírem, e eu com medo de morrer jovem, sem passar pela velhice e pela queda de forma saudável. eu não me preocupo com a perda da beleza. sou legal demais pra creme anti-idade. me preocupo com a minha vitalidade e utilidade. felizmente não bebo muito e nem exagero nos doces, como minha avó costumava fazer. mas sou estressada, ansiosa, me alimento mal às vezes, e fico horas com olhos vidrados na tela azul. quem me garante que minha demência não venha? pode não ser pelo álcool ou diabetes, mas poderia acontecer pelo excesso de luz azul.
e quem me garante que vou chegar na faixa da expectativa de vida brasileira? nunca se sabe o que vai acontecer. violência? acidente? infarto? mudanças climáticas? estou cada vez mais cética e desesperançosa. o futuro pode estar cansado de esperar, mas quem me garante que ele vai existir? o mundo me cobra absurdos, mas não considera minhas particularidades. não tem como eu ser aquela garota, mesmo sendo bilionária e com condições pra tal. eu iria vomitar o suco verde devido à seletividade alimentar, e acordaria cinco da manhã só pra ficar hiperfocada por horas num interesse inútil, enquanto esqueço da minha produtividade matinal.
uma parte de mim está pessimista e desistente, e outra quer manter sonhos vivos. eu não gostaria de passar por essa vida apenas observando, como fiz antes. eu gosto de agir e realizar. tenho tanta coisa pra fazer, mesmo que eu realize aos 40, e logo sofra retaliação etarista de chatinhas de 20 e poucos. como falei, eu não quero morrer nova. eu não quero ser inútil, mesmo no fim do meu tudo. estou exausta, pessimista, frustrada, e não gostaria de desistir mesmo assim. estou numa corda-bamba, e não sei pra onde vou cair.
💜 X'nO, Lilac P

Comentários
Postar um comentário