lágrima frustrada

provavelmente, vai ser mais uma das reflexões curiosas que tirei da minha vida. essa pode ser a mais desimportante ou a mais específica até hoje, pois isso foi algo estranho que notei. nem sempre sou tão consciente de mim, às vezes. nem sempre sou boa em sentir e deixar as emoções fluirem de fato, pois preciso remoer tudo e o porquê de cada detalhe que noto. e sim, isso me mata por dentro, pois fico cada vez mais desnorteada de mim a cada tentativa de racionalização mal-sucedida.

o dia da terceira internação da minha avó foi onde cheguei mais perto de uma emoção forte recentemente. tive um bom aperto na garganta e no coração. sentia lágrimas presas, quase chorei. curiosamente, a não ser em situações de shutdowns infantis, sou difícil pra chorar. eu não soltava uma lágrima direito, mesmo quando fingia crise só para irritar meus colegas de escola, pois eu era uma criança que se irritava com qualquer coisa que faziam (a última vez que tive crises de choro reais foi justamente nos anos de 2018 e 2019, difíceis demais para meu ego de ex-nerd). na infância, gritar e fazer birra era mais fácil, mas fui polida com o tempo. para não ser a menina mal-educada que tanto me apontavam.

eu não sei até que ponto esse texto vai, com meus pensamentos aleatórios, sendo bem honesta. isso é apenas vozes da minha cabeça, que vou tentando aquietar a cada palavra que escrevo. só sei que pareço ser mais uma jovem blasé, talvez aparento ser sem coração para uma pessoa emotiva. mas nunca fui assim, de verdade. tudo é borbulhante e tenso dentro de mim. às vezes, sou impulsiva, salvando um monte de foto sem critério no Pinterest, ou pesquisando compulsivamente textos e matérias no Google, em tentativas insanas de me entender. e nem sempre é por mal. é só porque meus sentimentos entalados não conseguem sair com facilidade. e meu cérebro atípico está angustiado. eu sou uma ansiosa angustiada.

e também frustrada. boa parte da minha vida foi passada, sem algo interessante a se contar. eu era quase chamada de prodígio, e não rendi nada mais que uma troca de faculdade, projetos de internet abandonados e um blog que faço mais por amor. nos 23, 24 anos, era para estar na pós-graduação ou entrando no primeiro emprego (ou os dois de uma vez só). eu não estou em nenhum desses momentos. e eu acho que, secretamente, boa parte das pessoas que me estimaram queriam isso de mim. sendo que... no fundo, não queria de fato. eu nem sabia o que estava fazendo da minha vida, eu era só uma adolescente. sinto muito.

o que eu queria, pra agora, era chorar de fato. não preciso soluçar ou gritar. eu só queria deixar uma lágrima cair, depois de tanta frustração, tantos momentos ruins, tantas mentiras que acreditei. eu queria chorar por uma adolescência mal aproveitada, por puro medo de expressar fraquezas que hoje vejo como traços de autismo, ou de sair do papel de aluna exemplo que me davam. eu só queria chorar pela demência da minha avó, e pela minha desesperança de melhoras, pois sei bem o quanto esse quadro vai se agravar. eu só queria chorar e não me importar. eu só queria sentir no primeiro impulso, não criar demasiadas razões para meus sentimentos mal resolvidos.

eu queria uma lágrima frustrada.

💜 X'nO, Lilac P

fundo lilás, com o seguinte trecho em letras pretas: "o que eu queria, pra agora, era chorar de fato. não preciso soluçar ou gritar. eu só queria deixar uma lágrima cair, depois de tanta frustração, tantos momentos ruins, tantas mentiras que acreditei." isso vem do texto "lágrima frustrada", que está destacado em letras brancas e contido num retângulo preto. ao lado esquerdo, uma mulher com lágrimas no rosto e batom vermelho. do outro, estão recortes e broches de olhos, correntes sortidas e papelão. por fim, minha assinatura está abaixo do retângulo: coração dourado brilhante, X'nO, Lilac P.

off: e essa lágrima frustrada finalmente aconteceu. anteontem, após mais de um ano resumida a cama e essas três internações, minha avó se integrou ao universo e não está mais entre nós. felizmente, esse material foi feito por tanta antecedência, visando uma data futura, que pude adiantar para esse momento. embora eu reconheça que fui uma egoísta e um pouco dramática ao longo do texto, ele diz muito sobre esses últimos meses e conecta com meus dias atuais depois do falecimento. foi um choque enorme saber disso numa noite de carnaval, e ver o quarto vazio onde ela estava, na manhã seguinte, me doeu por dentro o suficiente pra não guardar mais. queria que essa volta ao blog tivesse sido com força total, mas não estou com energia suficiente para isso. e talvez, eu dê uma pausa de duas ou três semanas para, ao menos, me acostumar e tolerar melhor a dor do luto e da ausência. amanhã, faço o repost da sexta, e me dou meu tempo de novo. sinto muito, de verdade 🖤

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